Você olha para a sua carteira e vê que ela rendeu 5%, 10%, 20% ou até 200%. Mas aí surge a grande dúvida: como saber se essa rentabilidade é realmente boa ou ruim? O que parece ser um resultado excelente em um país pode ser irrelevante em outro. Entender isso é fundamental para não se enganar com os números e tomar decisões conscientes. Neste artigo, vamos esclarecer de vez essa questão, mostrar o papel do benchmark, explicar a relação entre risco e retorno e dar exemplos práticos que vão mudar a forma como você avalia seus investimentos.
Rentabilidade é Sempre Relativa
Muita gente comemora ganhos sem entender se eles realmente têm valor. Um retorno de 200% pode soar incrível, mas tudo depende do cenário. Na Venezuela, onde a inflação ultrapassa milhões por cento ao ano, esse rendimento é praticamente nulo. Na Argentina, pode ser razoável. No Brasil, já é excelente. Nos Estados Unidos, é extraordinário.
Ou seja: a rentabilidade não pode ser analisada de forma isolada. É preciso sempre compará-la com o contexto econômico em que você está inserido.

O Que é Benchmark e Por Que Ele Importa
Para avaliar se um resultado é bom ou ruim, o investidor usa um benchmark — uma referência que serve como padrão de comparação. No Brasil, o principal é o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que anda praticamente junto com o Tesouro Selic, considerado o investimento mais seguro do país.
Se a sua carteira de renda fixa rende menos que o CDI, há algo errado. Afinal, você está correndo mais risco para ter um retorno inferior ao mais seguro dos investimentos. Por outro lado, se a sua carteira supera o CDI, significa que está entregando resultados acima da média.
O Triângulo dos Investimentos
Todo investimento é guiado por três fatores: rentabilidade, risco e liquidez. Esse é o chamado Triângulo dos Investimentos. Não existe fórmula mágica: aumentar a rentabilidade significa assumir mais risco. O trabalho do investidor é buscar um equilíbrio, elevando o retorno sem que o risco cresça na mesma proporção.
É aqui que entra o Índice Sharpe, que mede justamente essa eficiência: quanto a sua carteira está entregando de retorno em relação ao risco que você corre.
O Dilema do Investidor: Clabin x CDI
Uma aluna trouxe uma pergunta que representa a dúvida de muitos: por que investir em uma ação como KLBN4 (Clabin), que paga 5% de dividend yield, se o CDI está rendendo 10,4% ao ano com risco muito menor?
A comparação é válida. Se um investimento de renda fixa paga mais do que uma ação de maior risco, o índice Sharpe da ação é inferior, tornando o investimento menos eficiente. Em um primeiro momento, faz mais sentido ficar na renda fixa.
Mas há detalhes importantes: dividendos são isentos de imposto de renda, enquanto o CDI é tributado. Além disso, ações podem se valorizar e repassar a inflação aos preços, protegendo o investidor no longo prazo algo que a renda fixa nem sempre garante

Como Empresas Repassam a Inflação
Um dos grandes diferenciais de empresas é a capacidade de repassar a inflação aos preços. Imagine uma indústria de cosméticos que vendia um creme por R$15, com custo de produção de R$10 e lucro de R$5. Se os custos sobem para R$14 por causa da inflação, ela não continuará vendendo por R$15. O preço vai para R$19 ou até R$20, mantendo (ou ampliando) a margem de lucro.
Isso acontece diariamente: no restaurante, no salão de beleza, na pizzaria da sua cidade. A inflação chega para o consumidor, e as empresas preservam sua rentabilidade. Esse poder de repasse torna as ações uma proteção importante contra a inflação no longo prazo, algo que a renda fixa não consegue oferecer da mesma forma.
Mais do Que Números, Conhecimento
Saber se a sua rentabilidade é boa ou ruim exige comparação com o benchmark, análise do risco e compreensão do cenário econômico. CDI e Tesouro Selic são referências para renda fixa, mas ações oferecem vantagens como dividendos isentos e proteção contra a inflação.
No fim das contas, a Bolsa de Valores premia o conhecimento e pune a ignorância. Não se iluda com ganhos rápidos nem desanime com quedas iniciais. O que vai determinar seu sucesso não é apenas o percentual que aparece na tela, mas a sua capacidade de entender o que ele realmente significa.
